segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O pecado

O pecado é um homem pisar brutalmente na vida de outro homem e não levar absolutamente em conta as feridas que deixou atrás de si
Shusaku Endo 

O novo governo terá de usar o gogó


O modelo simplista de expansão da demanda de consumo que vem sendo adotado desde 2003 está esgotado. A estagnação da produção industrial e da taxa de investimento, e, por último, a queda da taxa de crescimento potencial do PIB brasileiro de cerca de 4,5% ao ano, para algo entre 0 e 1% ao ano, são os principais sinais de que o modelo precisa mudar radicalmente. Agora, é preciso o País se voltar completamente para o crescimento do investimento,  especialmente em infraestrutura e especialmente privado (pois o setor público, além de ineficiente, está virtualmente quebrado), o que levaria ainda ao aumento da produtividade geral da economia, seja qual for o próximo governo.
Não adianta o governo dizer que a taxa de desemprego é baixa. Nas difíceis condições atuais, para o desemprego começar a aumentar seguidamente, é só um passo.

Outro problema ignorado pelo governo é a iminente crise fiscal em que suas políticas nos colocaram, depois de termos conquistado vários degraus de credibilidade nessa área, sem falar na inflação descontrolada. Como no Brasil o gasto público é muito rígido e sua expansão é parte fundamental do modelo econômico atual, tudo depende do que acontece com a receita.

Que campanha feia


A campanha eleitoral do primeiro turno chega ao final deixando a sensação de que a máxima de Shakespeare, por meio da fala de Marco Antônio no túmulo de Júlio Cesar, vítima de traição dos senadores romanos, fustigará por bom tempo a consciência dos nossos atores políticos: “A maldade que os homens são capazes de fazer sobrevivem a eles, e as coisas boas são muitas vezes enterradas com seus ossos”. Os resíduos de sangue que respingam da contenda entre candidatos deixarão marcas indeléveis nos muros da política, devendo ganhar dimensão histórica. Estarão coladas à história dos personagens. Já vimos situações mais degradantes, como o bombástico depoimento de Miriam Cordeiro, em 1989, que dizia ter se separado de Lula, em 1974, após este tomar conhecimento de sua gravidez e ter sugerido um aborto. Fernando Collor acabou ganhando a campanha. Mas a disputa em curso não deixa a desejar em matéria de vulgaridade, mesmo sabendo que o “negócio” em que se transformou a política é um dos mais afeitos aos jogos desleais.

Não se pode dizer que a campanha se dedicou exclusivamente ao exercício de tiro ao alvo. Não. Viram-se ideias, programas, propostas e feitos de candidatos, tanto na esfera federal quanto no âmbito de Estados. E, também, perorações genéricas, cheias de boa intenção. Mas pouco ficou da substância dos programas eleitorais, particularmente em áreas de alta prioridade como saúde, segurança pública, educação e reformas fundamentais (política, fiscal-tributária, previdenciária, trabalhista etc). Menção rápida sobre esses assuntos não foi suficiente para a devida compreensão pela maioria do eleitorado, agravada pela modelagem de autoglorificação das mensagens televisivas. Pergunte-se ao cidadão comum se consegue distinguir diferenças de pontos de vista entre as três principais candidaturas sobre questões sociais, por exemplo. O que teria sobrado, então, da verborragia eleitoreira? Infelizmente, os aspectos negativos prevaleceram sobre os pontos positivos.

Leia mais o artigo de Gaudêncio Torquato

'A pobreza me incomoda'


É lógico que não estou me referindo à pobreza dos desvalidos, dos desafortunados e dos desassistidos. Falo dessa pobreza elevada ao estado de arte, cacarejada em prosa e verso por um bando de encostados na grande teta pública e defendida por uma ideologia rombuda e decapitada, que insiste em eternizar suas causas e efeitos na sociedade escorchada de sempre. Para aqueles que pensam, a charada do discurso de campanha proferido no plenário errado em si só já é espantosa. Dona Dilma não vê limites no uso do público, da privada e de outras louças diversas para fazer seus proselitismos e adular sua corja de militantes antiimperialistas pagos em mortadela. E já passou em muito dos limites de ser enquadrada pela lei, não é mesmo?

Aqui ninguém chia. A confraria de pilantras finge que não vê o que está acontecendo. Os confrades de sempre não conseguem olhar além da cartilha picareta do socialismo rastaquera para ver que a decência conspurcada por aqui gera nossos próprios decapitadores. O Estado Islâmico não é muito longe daqui, meus caros. Já há uma primeira filial dele no Complexo de Pedrinhas, com extensões diversas pelo Jardim Ângela e adjacências. É o resultado de doze anos de militantismo rombudo sobre nosso capitalismo infame e infante. O resultado de vinte anos trilhando o caminho errado sob o aplauso de uma galera que ainda tenta ver no socialismo assistencialista a fórmula do sucesso.