quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Babel

É lei de guerra: para ser vitorioso qualquer exército precisa de uma retaguarda unida e coesa. Uma lei que também vale para o mundo da política. Mas, no caso da presidente Dilma Rousseff, a guerra está perdida.

A desunião começa com o próprio PT, que deveria estar aglutinado em torno dela para o que der e vier. Principalmente nestes tempos em que a presidente sofre enorme rejeição da sociedade brasileira e é ameaçada concretamente por um pedido de impeachment.

As pesquisas publicadas nesta semana mostram que os índices de reprovação de Dilma e de seu governo continuam altíssimos. Nada menos do que 65% dos brasileiros consideram sua gestão ruim ou péssima. Poucas vezes na história da República um governante atravessou tamanha e brutal crise de liderança e popularidade.

Mas declarações de petistas de diversas tendências e o violento racha na chamada base aliada do governo explicitam que a retaguarda da presidente se espatifou.

E não adianta fazer uma guinada à esquerda para tentar juntar os cacos.

A nomeação de Nélson Barbosa para o Ministério da Fazenda, numa clara tentativa de agradar os setores mais à esquerda, pode acabar sendo um dos últimos suspiros do governo.

Tiro de fôlego curto. Sobretudo porque a economia vai mal e não existem recursos para se atuar com desperdício.

Na época da fartura, o modelo iniciado no governo do ex Lula, premiava-se a todos. Desde os empresários amigos escolhidos a dedo para fazerem parte do seleto grupo de campeões até os que o PT passou a chamar de nova classe média, produto de uma inclusão social pouco ou nada emancipadora. Também havia gordura suficiente para a cooptação de intelectuais, de centrais sindicais e de movimentos sociais. Esse modelo veio ao encontro de um tipo de esquerda adepta à tutela do Estado e ao paternalismo.

Ignorou-se o quanto era insustentável o modelo. Fez-se vistas grossas aos desmandos éticos, pautou-se pelo velho e esfarrapado preceito de que “moral é o que serve à classe operária”.

A divisão da base aliada também é de tal ordem que nem o vice-presidente da República escapou. O político, experiente, discreto, matreiro e de sangue-frio, rompeu com Dilma ao enviar a chamada carta-desabafo. E, desde então, não para de se articular contra a presidente.

A carta foi um movimento arriscado, sobretudo porque não transmitiu a 71% dos brasileiros segurança de que Michel Temer está preparado para presidir o Brasil. A pesquisa do Datafolha mostra que 13% simplesmente não sabem se ele seria melhor do que a presidente e outros 58% tem certeza de que ele seria pior ou igual a Dilma.

A oposição, que deveria oferecer alternativas para tirar o país da crise, perdeu o ano discutindo o impeachment. Pior, dando apoio, ainda que por vezes envergonhado, aos rompantes vingativos, midiáticos e irresponsáveis do presidente da Câmara dos Deputados, o peemedebista Eduardo Cunha, figura nefasta, encalacrado com denúncias de corrupção na Operação Lava Jato.

A crise profunda transformou a classe política brasileira numa espécie de Torre de Babel. Cada um fala uma língua. De interesse próprio, mesquinho e imediato.

A torre da gênese bíblica já provou que esse é o pior caminho para superar o dilúvio.

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