quarta-feira, 24 de junho de 2015

A desordem latino-americana


As rosas, quando são vermelhas, transmitem uma mensagem de amor. Os pombos, quando voam livres, são um símbolo de paz. As leis, quando obedecidas, são justiça e ordem social. Os três juntos –o amor, a paz e a justiça–fazem com que uma sociedade seja civilizada. Quando as rosas murcham por falta de irrigação, quando as aves não voam porque os caçadores as matam e quando os contraventores burlam as leis com impunidade ocorre o que os mexicanos chamam de desmadre [desordem, caos]. A América Latina está à beira do caos social por causa da corrupção e da violência de grupos poderosos que proliferam do México à Argentina, passando pela Venezuela e o Brasil, entre outros países. A atmosfera cívica é de desassossego e desilusão, com grande desgaste para a democracia política. Há protestos de rua, mas sem muita esperança nem projetos claros.


É verdade que houve reações alentadoras frente à crise. Os procuradores do poderoso Ministério Público Federal no Brasil descobriram enormes escândalos de corrupção na Petrobras, a grande companhia petrolífera nacional, e a justiça condenou à prisão figuras importantes do Partido dos Trabalhadores, o partido do Governo, acusados de organizar um esquema de subornos com fundos públicos para dominar o Congresso. A suprema corte da Argentina bloqueou as tentativas da presidenta Cristina Kirchner de nomear novos juízes que votariam a favor da prorrogação do mandato presidencial e perpetuar seu setor peronista no poder. As eleições legislativas de domingo no México contaram com uma grande mobilização de forças militares para combater as ameaças de violência por parte de grupos de narcotraficantes que exercem grande poder político e, com essa segurança, os partidos minoritários de oposição ganharam terreno contra o PRI, o partido no poder, embora o presidente Enrique Peña Nieto tenha conseguido manter a maioria necessária no Congresso para avançar com sua agenda de reformas. Na Venezuela, os partidos de oposição ao Governo repressivo do presidente Nicolás Maduro mobilizaram apoio popular e pressão internacional para que se realizem eleições limpas este ano, o que pode acabar com o regime chavista. E na Colômbia, um país-chave onde a guerrilha das FARC pactuou com traficantes de drogas para financiar sua insurgência política, as forças armadas conseguiram reduzir as regiões controladas pelas FARC e enfraqueceram suas principais lideranças. Com isso, a guerrilha mais poderosa da América Latina negocia um acordo de paz com o governo colombiano que tem como principal objetivo impor o respeito à lei com justiça social e democracia num país de 40 milhões de habitantes onde a violência política fez 220 mil vítimas em 50 anos de luta fratricida.

No entanto, a região ainda carece de uma tomada de consciência por parte do grande público de que a corrupção, que produz violência política e desvio de escassos recursos públicos para fins ilícitos, precisa ser arrancada pela raiz. O problema é sistêmico e não há espaço para contemporizações. Há quem diga que a cultura política dos latinos é tolerante com a corrupção. “Todo mundo faz isso”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como justificativa quando seu partido foi acusado de corromper o Congresso. Com o escândalo da Petrobras comprometendo novamente sua imagem, o PT realizou seu oitavo congresso nacional na semana passada em Salvador comemorando os 35 anos de fundação, mas sem uma palavra sobre a corrupção nos discursos oficiais. O mau hábito, no entanto, não é a lei, e é hora de que as regras sejam cumpridas por meio da justiça, quando o crime político for comprovado. O político condenado por corrupção deve ser desqualificado para exercer cargos públicos.


A questão da corrupção calou fundo na consciência latino-americana com a descoberta do império corrupto instalado na FIFA, o mais alto órgão regulador do esporte mais popular do mundo. A renúncia de Joseph ‘Sepp’ Blatter, o supremo dirigente da Fifa, aponta o caminho para muitas autoridades nacionais que estão sendo processadas pela justiça dos EUA. Oxalá essa sacudida tenha o efeito de multiplicar a pressão por reformas políticas na região capazes de criar mecanismos para combater os efeitos nocivos da corrupção nas instituições que são necessárias para uma democracia saudável, como um Congresso fiscalizador e um poder judiciário independente. Para isso, as sociedades latino-americanas terão de produzir anticorpos vigorosos para expulsar a corrupção onde quer que apareça. Não há meio termo.

O papa Francisco, com sua habitual franqueza, denunciou a corrupção como o grande pecado antissocial. Pouco depois de assumir o papado, em 2013, o primeiro pontífice latino-americano disse: “A credibilidade política, perdida por causa da corrupção e da prática interessada com a que grande parte dos políticos exerce seu mandato, não pode ser recuperada se não forem respeitados os direitos dos mais vulneráveis”.

Juan de Onis

Qual o segredo do Vietnã para melhorar qualidade da educação?



O desempenho do Vietnã na última prova PISA - Programa para a Avaliação Internacional de Alunos - foi excelente.

Na primeira participação do país asiático nas provas organizadas pela OCDE, os jovens vietnamitas de 15 anos tiveram pontuações mais altas em leitura, Matemática e Ciências do que muitos estudantes de países desenvolvidos, incluindo Estados Unidos e Grã-Bretanha.

O feito surpreendeu as autoridades do Vietnã e os observadores externos.

Existem três fatores importantes que contribuíram para estes resultados incríveis: um governo comprometido, um plano de estudos bem pensado e um forte investimento nos professores.
Investimentos

O governo do Vietnã vem dedicando tempo e recursos para avaliar os desafios relativos à Educação.

Vietnã e os EUA nos testes internacionais

O Vietnã participou do PISA pela primeira em 2012, ficando na 17ª colocação em Matemática, 8ª em Ciências, 19ª em leitura.

Os Estados Unidos ficaram 36º lugar em Matemática, 28º em Ciências e 23º em leitura.

No ranking global publicado pela OCDE em maio de 2015, baseado apenas em Ciências e Matemática, o Vietnã ficou em 12º lugar enquanto que os Estados Unidos ficaram em 28º lugar.

Neste ranking o Brasil ficou em 60º lugar.

O país criou um plano de Educação de longo prazo e parece estar disposto a destinar o financiamento que for necessário para atingir seus objetivos.

Quase 21% de todos os gastos públicos de 2010 foram dedicados à Educação, uma proporção muito maior do que em qualquer país membro da OCDE - o clube dos países mais desenvolvidos do mundo.

Os educadores do país também criaram um plano de estudos que busca fazer com que os alunos desenvolvam um conhecimento mais profundo de conceitos centrais das diversas disciplinas e um domínio das habilidades básicas.

O momento Gorbachev de Lula

Lula, essa metamorfose ambulante, apresentou-se com uma nova roupa. Dizendo-se "velho" e "cansado", defendeu uma "revolução interna" no Partido dos Trabalhadores. Quer colocar nele "gente nova, gente que pensa diferente". Por duas razões, é possível que esteja perdendo seu tempo.

Primeiro porque não está falando sério. Ele diz: "Não sei se é defeito nosso ou do governo". Se acha que o defeito pode ser do governo, e não "nosso", acredita que alguém seja capaz de separar um do outro. Diz mais: "Eu acho que o PT perdeu um pouco de sua utopia". Casos como o do assassinato de Celso Daniel, o "mensalão" e as petrorroubalheiras dificultam a percepção de que o PT tenha perdido só "um pouco de sua utopia". Com a proteção que Lula e o partido deram aos comissários nos escândalos que hoje os trituram, ele perdeu toda a utopia. Pior, detonou as utopias históricas dos grandes contratadores de negócios com o Estado. Num fato inédito desde que o marechal Deodoro foi acusado de proteger uma empreiteira, conexões petistas levaram maganos para a cadeia. Os companheiros que prometiam prender empresários corruptos ajudaram a conduzir bilionários simpáticos à sua tesouraria para a carceragem de Curitiba e foram junto.

O segundo motivo pelo qual Lula pode estar perdendo seu tempo foi exposto ao país no congresso do apartido em Salvador, quando o nome do tesoureiro João Vaccari Neto recebeu uma ovação do plenário. A "gente nova" que um dia foi para o PT hoje grita nas ruas para que ele se vá.

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Aos 69 anos, a guinada utópica de Lula tem alguns ingredientes da ilusão de Mikhail Gorbachev quando pensou em rejuvenescer o sistema político soviético. Ele achou que o partido comunista tinha conserto. Felizmente para o Brasil, o PT pode viver sua crise sem destruir o Estado. Como no baralho do regime de Gorbachev não havia a carta da regeneração, ele acabou como garoto propaganda das malas Louis Vuitton.

Apesar de tudo isso, não se deve subestimar a metamorfose ambulante. Lula surgiu no cenário nacional emergindo vitorioso de uma greve com a qual pouco teve a ver, a da Scania em 1978. E triunfou nos dois anos seguintes liderando paralisações ruinosas. Já entrou em assembleia tendo feito um acordo com o patronato e, ao sentir o clima de peãozada, renegou o acerto, marchando heroicamente para uma derrota. Saiu vitorioso no fracasso. Cresceu a cada um desses lances, chegou ao Planalto e colocou um poste no seu lugar.

A primeira eleição de Lula deveu-se em boa parte às suas virtudes. A partir daí, os êxitos do PT deveram-se principalmente às inclinações demofóbicas de seus adversários. Quando Lula surpreende dizendo que tanto ele como a doutora Dilma estão no "volume morto", a oposição rejubila-se, como se isso lhe bastasse. Esquece-se que até bem pouco, quem estava literalmente no volume morto era o governador Geraldo Alckmin, ameaçado por um racionamento de água em São Paulo. Depois de dez meses de ansiedade, subiu o nível do sistema Cantareira e o tucano é candidato a presidente.

A guinada e o rejuvenescimento petista são utopias que Lula vende, mas não compra. Sua esperança está onde sempre esteve: na demofobia dos adversários.

O arrivismo do caudilho

Sem tropas para comandar, o caudilho faz uma manobra ousada. Seu voo cego, contudo, pode levá-lo a se espatifar no chão

Está certo que todo caudilho é egocêntrico por natureza, mas o ex-presidente Lula ultrapassou todos os limites do arrivismo ao pisar no pescoço da presidente Dilma Rousseff e entregar a cabeça do PT para tentar salvar a própria pele. Em uma ação desesperada, arrisca-se em um voo torto com o propósito de descolar sua imagem de Dilma e do PT. Só assim, acredita, preservará o que ainda lhe resta de popularidade. É o único caminho que vislumbra para tentar voltar ao Planalto em 2018.

Por uma questão de respeito a quem não está mais neste mundo, não vamos aqui reproduzir as palavras de Brizola, de 1989, sobre o que Lula seria capaz de fazer para concretizar sua ambição pelo poder. Nem precisa. Basta olhar para os meios utilizados pelo ex para se despregar do rotundo fracasso do governo Dilma. Dia sim e outro também, vaza, ou deixa vazar, versões de reuniões que o deixam bem na fita e retiram mais ainda o escasso oxigênio da presidente que ele próprio inventou e tutelou.

Como o atual governo virou uma mala sem alça, um andor difícil de carregar, Lula prepara o bote para abandonar o navio. Sabe-se bem que abraço dos afogados não é com ele.

Não basta apenas se livrar da criatura. É preciso jogar no mar também o PT, antes da catástrofe eleitoral que se anuncia no horizonte do Partido dos Trabalhadores, nas próximas eleições municipais.

Quando se pensa que já se viu tudo em matéria de sordidez na política, Lula apronta mais uma. Entrega os petistas aos leões, como se o processo de domesticação do Partido dos Trabalhadores e de amancebamento dos “companheiros” não tivessem sido obra sua.

José Dirceu assumiu a presidência do partido com a missão de pavimentar a estrada que levaria Lula ao poder. Para tal enquadrou as tendências internas, jogou na lata do lixo as velhas bandeiras, entre elas a que funcionava pelo menos da boca para fora: a defesa da ética.

Com a assunção de Lula o Estado foi tomado. Pelo Partido dos Trabalhadores e pelos movimentos sociais. Entidades anteriormente combativas receberam todo tipo de benesse governamental e até as poucas ditas puras se apelegaram.
Sindicalistas e petistas deram origem a uma nova nomenclatura, aboletada em diretorias de fundos de pensão e empresas estatais, ocupando milhares de cargos de confiança. Difícil crer que agora Lula queira que eles larguem o osso.

O modelo de cooptação foi ampliado aos partidos aliados por meio de mecanismos antirrepublicanos: o toma lá dá cá.

A crise econômica, política e ética deixaram o rei nu. Seu rugido, tal qual o de um leão velho, já não mete medo. Sente-se sozinho, ameaçado por todos os lados, sobretudo por um furacão chamado Lava-Jato.

Já não existem mais os exércitos de Stédile, da CUT e da UNE para saírem a campo em defesa de Lula e seu modelo populista.

Sem tropas para comandar, o caudilho faz uma manobra ousada. Seu voo cego, contudo, pode levá-lo a se espatifar no chão.

Alô, Terra, vocês me escutam?

Leio nos jornais que os marqueteiros decidiram humanizar Dilma. Se somos todos humanos, o que significa humanizar Dilma? A chamada humanização foi uma trajetória ascendente, na qual vencemos intempéries naturais, construímos ferramentas, resolvemos complexos problemas da vida social.

Como Dilma é considerada uma das mulheres mais poderosas do mundo, a humanização pretendida pelos marqueteiros é uma espécie de saída do Olimpo. Ela vai parecer agora uma pessoa comum, uma filha de Deus na nossa imensa canoa furada que é o Brasil de hoje. Ao vê-la no seu passeio de bicicleta, convenci-me de que era humana. Deuses não usam capacete. Não se importam em se esborrachar no asfalto com seus etéreos cérebros. Dilma, como todos nós, sabe que um choque pode embaralhar os já congestionados circuitos mentais.


O processo de humanização se desdobrou numa entrevista a Jô Soares, na qual, no Dia dos Namorados, Dilma discorreu sobre o ajuste fiscal e suas preferências de leitura. Ela ainda não se humanizou como Obama, que vai aos programas de televisão. Dilma só dá entrevistas no seu habitat, com os tapetes, livros e, possivelmente, um leve cheiro de mofo do palácio.

O trânsito do divino ao humano é sempre muito complicado. Os islamitas moderados sabem disso. O Corão (surata 9, versículo 5) aconselha matar os politeístas onde quer que se encontrem. Os moderados afirmam que isso é um texto do século VII, vale para um contexto da Península Árabica em guerra. Mas a religião disse que o texto foi ditado por Deus, onisciente e eterno, superior a todas as conjunturas históricas. Afirmar que o texto foi escrito por seres humanos, falíveis, sujeitos às limitações de seu tempo, é assumir o risco da heresia. Não creio que os marqueteiros queriam apenas mostrar a descida de Dilma ao mundo dos humanos, que desfilam em suas bicicletas Specialized cercados de seguranças de terno escuro.

Podemos imaginar outro caminho da humanização. Ele não envolve a relação divino-humano, mas sim a relação entre pessoa e máquinas. Humanizar, nesse caso, seria mostrar que Dilma não é a máquina de processar números e tomar decisões. Ela tem as mesmas preocupações que todos nós e, inclusive, leu a Bíblia na cadeia.

Nesse ponto, acho que o caminho dos marqueteiros não me convence. Se Dilma é vista como máquina de decisões, o aparato precisa de conserto, não de traços humanos. Grande parte de suas análises e decisões foi para o buraco: a máquina nos trouxe a uma das maiores crises da História do país.

Se aceitassem minhas ponderações, o problema dos marqueteiros não seria humanizar Dilma, mas trans-humanizá-la, transformando-a em máquina mais eficiente. Em vez da conversa com Jô que, na cadeia, quando não estamos lendo a Bíblia, chamamos de cerca-lourenço, Dilma deveria estar implantando chips em muitas partes do corpo. Seria capaz de acionar o aparato do governo sem tantos ministros, detectar desvios antes que cheguem a R$1 bilhão, emitir ondas sonoras que acalmem o Congresso.

O projeto de trans-humanizar Dilma não significa que não possa ir ao programa de culinária e mostrar como fritar um ovo. Há chips para isso. Mas todos saberíamos que Dilma não é apenas humana. Como ela quase arruinou nosso sistema energético, vamos confiar apenas no Sol para alimentar os seus dispositivos. Cada vez que ela se aproximar do astro, como o robô europeu Philae, saberemos que busca contato conosco:

— Alô Terra, vocês estão me ouvindo?

Nietzsche escreveu “Humano, demasiadamente humano”, para analisar a morte de Deus e a solidão humana ao decidir sobre o certo e o errado.

Seres humanos andam de bicicleta e aparecem no programa do Jô, pessoal. Mas os marqueteiros de Dilma deveriam considerar aberto o debate sobre sua humanização. Afinal, ela apenas desceria do Olimpo, apenas se distanciaria da máquina?

O Deus bíblico é capaz de fazer perguntas, de ter curiosidade, ao criar os bichos, sobre o nome que Adão daria a eles. Aparentemente, a curiosidade é um dado contraditório num Deus que sabe tudo. Contradição e curiosidade são dados humanos. Se até o Deus bíblico é curioso, por que Dilma não faz perguntas aos seres humanos: o que achamos dela, do seu governo e de seu próprio projeto de humanização. Mesmo uma eficaz máquina trans-humana está arriscada a dizer “Olá Terra, vocês me escutam?”, e ser respondida com um ensurdecedor panelaço.

O que os marqueteiros fariam ainda com Dilma para que pareça humana? Pedalar não vale mais, porque ela está sendo questionada no TCU exatamente por pedalar. Não precisamente na bicicleta, mas nas contas do governo.

A história recente já produziu outro gesto de humanização: o general Garrastazu Médici fazendo embaixadas num campo de futebol. Aprendemos com o marketing político que os seres humanos praticam o futebol e o ciclismo. Chega de humanizar, vamos trans-humanizar, encher os políticos de chips e antenas. Prefiro encontrar Dilma e, ao invés de “bom dia, presidente”, saudá-la com um lugar-comum nos encontros de terceiro grau: “Por favor, leve-me ao seu líder”.

A Revolução Cultural do Lula

Na China, Mao Tse-Tung encontrava-se no ostracismo, desprestigiado e sem poder, depois de haver ainda jovem liderado o partido comunista, empreendido a Longa Marcha, resistido aos japoneses e proclamado a República Popular. Já velho, foi nadar no Rio Yang Tse e decretou a Revolução Cultural, apoiado na juventude. Virou o país de cabeça para baixo. Humilhou, condenou e afastou seus companheiros da Velha Guarda. Excessos sem conta foram praticados mas ele retomou o poder absoluto.

Parece não haver muitas diferenças entre Mao e o Lula, que passou a defender uma revolução no PT, dizendo que legenda que ajudou a criar envelheceu e perdeu a utopia, não sabendo se o defeito foi dele ou do governo Dilma. Acusou os companheiros de ficarem pensando apenas em cargos nos governos por eles administrados, inclusive no plano federal. Clamou pela definição se desejam salvar a pele, os cargos ou os projetos. Isso poucos dias depois de haver acusado Dilma de “volume morto” que não produziu uma só notícia boa depois de reeleita. Segunda-feira, completou afirmando “que acreditávamos em sonhos, hoje a gente só pensa em empregos”.


É a Revolução Cultural em marcha aqui nos trópicos, depois que o Lula passou a sentir-se desprestigiado e desprotegido, em especial porque o governo não o defende frente à operação Lava-Jato. Dilma está para o presidente deposto Liu Shao-Chi assim como seus ministros lembram a cúpula afastada por Mao. Para muita gente, logo saberemos quem vencerá, mas algo de patético começa a acontecer.

Para Marx e Lenin a História só se repetia como farsa, mas eis o Brasil contrariando lições dogmáticas. O primeiro-companheiro dá a impressão de não apenas pretender descolar-se da sucessora, mas de querer a demolição de seu governo. Sua mais contundente crítica foi reconhecer estar velho, cansado, com 69 anos, obrigado agora a repetir as mesmas coisas que falava em 1980. Só falta, mesmo, botar o calção e nadar no rio Tietê…

A grande pergunta refere-se a como o PT reagirá. Se dará respaldo a Dilma, ignorando o ressurgimento do Lula, ou logo se bandeará para o primeiro-companheiro. Não dá para ocultar a existência de um muro mais alto do que as muralhas da China, separando o antecessor da sucessora. Será bom não esquecer que Madame, sozinha, não criou liderança alguma. Sem o Lula e sem o PT, não se elegeria síndica de um edifício. Junto com seus ministros petistas, mas nem todos, tentará ocultar a crise, coisa que só estimulará o Lula a não interromper sua revolução. Poucos ousarão, no partido, aconselhar o ex-presidente a refluir, depois dele ter reconhecido o fracasso da administração atual.

É preciso aguardar qual o próximo passo do Lula. Brasília nada tem a ver com a Cidade Proibida de Pequim, onde se podiam refugiar os donos do poder. Ainda mais quando são verdadeiras as críticas do ex-presidente. Os dirigentes do PT só pensam em cargos. Abandonaram, faz tempo, os projetos de mudar as instituições nacionais, contentando-se com o bolsa-familia para justificar seu imobilismo. Só que as bases discordam, como se viu dias atrás no V Congresso do partido, em Salvador. Calaram-se, depois de protestos veementes, porque o próprio Lula pediu. Agora estão livres para recomeçar, com o Grande Timoneiro à frente. Motivos não faltam, desde a adesão de Dilma às propostas de Joaquim Levy até a entrega da coordenação política a Michel Temer.

Imperativo moral

Morrer de véspera não é saudável. Não serve a proposito algum. Não melhora a vida. Carece de benefícios. Aumenta a ansiedade. E não deve fazer bem ao coração. Viver no passado, entretanto, é pior.
Ficar aferrado a ideias, conceitos e experiências passadas puramente para revivera-los e reproduzi-los nunca fez lá muito sentido. No mais das vezes, é sinal de falta de ideias, originalidade ou simples cinismo para preservação de vantagens próprias.

Não reconhecer a influência do passado e do presente no futuro, é perigoso. Futuro é coisa escorregadia. Vai chegando sem avisar. O tempo vai escorrendo por entre os dedos até o momento em que o que estaria por vir já chegou. Futuro tem dessas coisas.

Seres humanos têm como uma de suas qualidades mais importantes à capacidade de reconhecer o impacto de suas ações no presente nos resultados a serem (ou não) colhidos no futuro. Sabe investir. E sabe colher.

Os mesmos seres humanos tem também a capacidade de sacrifícios pessoais para o bem das gerações futuras. Investem para outros, às vezes completos desconhecidos, colherem. Tem potencial para nobreza.

Este tipo de nobreza é coisa difícil de ser encontrada nestes tempos em que todos parecem querer o seu. Rápida e imediatamente. Faz tempo que a preocupação com as gerações futuras desapareceu da agenda.

Nobreza tem andado em falta. Infelizmente, no momento em que mais precisamos dela. Esta faltando grandeza, preocupação e respeito com gerações futuras. Talvez motivado por miopia egoísta que se vai subtraindo o futuro das gerações futuras. Condenando-os a vida difícil, dívidas impagáveis e perspectivas limitadas. 


Do jeito que esta, os jovens, presentes e futuros, viverão em meio ambiente destruído. Crescerão sem acesso a educação de qualidade. Competirão em desigualdade de condições com jovens de outros países. Não colherão qualquer beneficio do bônus populacional enquanto carrega nas costas o peso da nossa miopia egoísta.

Melhorar a vida das gerações futuras é obrigação dos adultos de hoje. Transcende ideologias, interesse, raça e fronteira. É parte do que diferencia os seres humanos. É principio que compele (ou deveria compelir) seres humanos a agir. É imperativo moral.

Por isso, talvez valha a pena debater que mundo será deixado para as gerações futuras. E, talvez, evitar pelo menos algumas das injustiças às quais elas estão sendo condenadas.

A nova direção de 'Brahma'

As críticas e os desabafos de Lula têm merecido muitas análises sobre a relação dele com o governo e o PT. Brahma não prega prego sem estopa. Está montando uma nova imagem para melhorar a decrépita que tem usado.

Quer fazer-se agora de um bom velhinho. Falta-lhe credibilidade, quanto lhe sobra de cretinice. Dizer-se velho aos 69 anos quando líderes mais idosos continuam na ativa é, no mínimo, outra mascarada. Quer voltar intensamente à mídia para ditar normas de conduta do PT segundo o seu evangelho apócrifo. E não para de almejar 2018.

Não é ele, o partido e os militantes que estão velhos. Envilecidos é que estão. fizeram, sob o comando de "Deus", o que queriam com o país, encheram as burras e ainda continuam a se locupletar com o dinheiro público. Dizer que "hoje, (o partido) só pensa em cargo, em emprego" é o mesmo que garantir que quando estava no comando isso não acontecia. Mentira! Foi o fundador, junto com os Zés Mensalão e Palloci, entre outros líderes da empulhação, na empreiteira Brasil S/A, a empregadora nunca antes vista no país.


Em plena crise, petistas municipais ainda engrossam o exército partidário com a farta distribuição de cargos nas prefeituras como subsidiárias da empregadora petista. Há cidades em que se alistam por dia de oito a dez novos comissionados. Está todo mundo atrás de emprego. Prefeituras são verdadeiras usinas empregatícias e maior polo empregador. Tudo sob a chancela do PT S/A que tem Lula como patrono.

O ex quer apenas parecer que mudou. Se tornou um redentor. Caso seja pego pela Lava-Jato, espera de mãos postas que sua nova imagem de bondade e caridade possa receber a indignação popular. Preso, conta com uma imagem de mártir e seu palavrório de agora faz parte dessa estopa.

Passar à história do Brasil como o maior pilantra que já ocupou a Presidência- até superou em muitas léguas Fernando Collor -, não quer como legado. Ainda mais se arriscando como está a deixar a família sem os milhões que amealhou como ex-operário e sindicalista.