quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Dizem as más lendas que a gente se acostuma a tudo na vida

Dizem as más lendas que a gente se acostuma a tudo na vida. Não acredito nem desacredito nisso. Acredito, porém, que, após intenso trabalho consigo mesmo – de autodomínio, de relaxamento muscular (técnica eficiente para combater a tensão ou a ansiedade), de racionalização, de dedicação aos afazeres diários, de diversificação da rotina, de intensos exercícios físicos, além de muito exercício mental, incluindo-se aí a companhia de bons livros e de bons filmes (recomendo-lhe, por ora, leitor, dois: “La La Land” e “Lion: Uma Jornada para Casa”), a gente pode, no mínimo, tentar entender o que se passa em nosso país.

Na realidade, não deveríamos sofrer tanto (refiro-me, sobretudo, aos que conhecem um pouco da nossa história) com esses momentos difíceis por que passam os brasileiros hoje. A melhor receita, para os que nada sabem ou pouco sabem do que sempre foi nosso amantíssimo Brasil, está na recordação do seu passado mais longínquo.

Malfeitos, roubos e crimes, como esses que estamos vivenciando, diariamente, não são recentes. Na verdade, vêm sendo praticados aqui, neste país abençoado por Deus, há muitos e muitos anos, seja na iniciativa pública, seja na iniciativa privada. O domínio exercido por minoria reduzidíssima, que tomou conta do Estado e fez dele seu patrimônio, sempre impediu que viessem à tona. Simples assim.

A imagem levada ao ar pela TV Globo, quando trata da Lava Jato em seus noticiários diuturnos, me parece que é a que melhor explica, didaticamente, o que vem acontecendo. Aqueles dutos por onde escorre nosso enorme volume de dinheiro roubado nada mais são do que os intestinos do Brasil, que represam, há anos, continuadamente, matéria putrefata. Mesmo rompidos, em consequência da ação de alguns brasileiros determinados a combater a corrupção, e com forte apoio da sociedade brasileira, o excremento, para sair todo, demandará tempo.

O melhor mesmo, para todos nós, é acreditar no regime democrático como único capaz de dirimir questões como as nossas. Depois, antes de sair de casa pela manhã, é bom também admitir que o país já foi pior e que, por isso mesmo, vai melhorar. Assim, talvez consigamos enfrentar, finalmente, a terrível e desafiadora avalanche de notícias sangrentas que nos trazem todos os veículos de comunicação. Com certeza, isso nos ajudará a não jogar fora algumas noites de sono.

Pois essas notícias não cessarão tão cedo. O “jeitinho”, um expediente não só ilegal, mas totalmente imoral, se afeiçoou profundamente ao cotidiano dos brasileiros. Consertar isso não é fácil.

Prisões temporárias, preventivas ou definitivas, desde que em conformidade com a lei e o bom direito, podem ser oportunas e convincentes. As condenações também são importantes. Mas, se não se penetrar na base, isto é, na educação, nada impedirá que nosso país continue seguindo o mesmo rumo preconizado pelos seus “senhores”.

Investir pesado na educação seria a única resposta que se poderia dar à escritora Ana Maria Machado, que, no “O Globo” do último sábado, após inquirir, logo no seu início, “o que está acontecendo conosco?”, concluiu assim seu artigo: “Até quando? O que achamos que estamos construindo para o futuro?”. Por fim: “Em que isso tudo vai dar?”.

Ninguém sabe o que poderá acontecer ao país, mas sem o empurrão da educação, único meio de se construir um futuro de fato seguro, veremos já no que “isso tudo vai dar”. E não será nada bom.

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