terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Do Porto de Santos, de Temer, ao Porto de Nápoles, de 'Gomorra'

Caminha para desaguar no brejo – assim como a Reforma da Previdência, afogada pela intervenção militar e a indicação do General Walter Braga Neto para mandar, de fato, no estado do Rio de Janeiro-, a manobra desastrada (ou desesperada?) tocada pelo novo chefe da Polícia Federal, Fernando Segovia, com o infeliz propósito de abafar ou fulminar de vez as investigações que envolvem o mandatário atual da República, Michel Temer, no rumoroso caso do Porto de Santos.

Pior, mesmo, só o desastre e o quadro indecente de terra arrasada – sem governantes, sem lei, sem segurança e sem perspectivas – que o Rio apresentou ao mundo nos dias do carnaval. Agravado, na madrugada da quinta-feira, deste início da Quaresma , pelo temporal que caiu por lá, em meio às mazelas e omissões de governador e prefeito, trêfegos e ausentes. E, desde sexta-feira,16, sob imprevisível mando militar .

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Vamos por parte, para não transformar em caos definitivo, incluído no rol do “sem jeito”, a situação já suficientemente grave . O JN (TV Globo) divulgou o memorando dos delegados da Polícia Federal do Grupo de Inquéritos do STFl, responsáveis pela investigação de detentores de foro privilegiado. “Em face dos recentes acontecimentos amplamente divulgados pela imprensa, os delegados integrantes deste Grupo de Inquéritos junto ao STF vêm a dar conhecimento de que, no exercício das atividades da Polícia Judiciária naquela Suprema Corte […], não admitirão, nos autos do inquérito 4621/STF ou em outro procedimento em trâmite nesta unidade, qualquer ato que atente contra a autonomia técnica e funcional de seus integrantes, assim como atos que descaracterizem a neutralidade político-partidária de nossas atuações”, diz o memorando em recado duro, direto e de certeira pontaria, em seguida à entrevista de Segóvia, distribuída pela Reuters.

Resta saber se alguém (e quem) vai pagar para ver. Porque se for levada a fundo investigação sobre malfeitos no Porto de Santos – não só neste caso nebuloso da Rodrimar, mas também no largo período de controle do PMDB (Temer à frente) sobre o mais importante complexo portuário do Brasil-, a terra vai tremer. Em 1999, quando presidia o Senado e emendou os bigodes com o atual mandatário , Antonio Carlos Magalhães afirmou, de público: “As coisas morais nunca foram o forte do senhor Temer. Se abrir um inquérito no Porto de Santos, ele ficará péssimo”, disparou ACM.

Portos escondem segredos em suas docas, em seus navios, em seus contêiners e em suas águas. Roberto Saviano – jornalista infiltrado na máfia napolitana -, fala sobre o Porto de Nápoles, no capítulo inicial de seu livro-reportagem, “Gomorra”.: “O contêiner balançava enquanto a grua o deslocava para o navio. Como se estivesse flutuando sozinho no ar, o sprider, gancho que prendia a grua, não conseguia domar o movimento. Suas portas mal fechadas se abriram bruscamente e dezenas de corpos começaram a cair”… Não deve ser a mesma coisa por aqui. Mas há quem desconfie – e até aposte – , que há segredos e esqueletos escondidos também nos contêiners do Porto de Santos. Metaforicamente ou não. Agora é aguardar, para ver onde os delegados da PF vã o chegar.

Vitor Hugo Soares

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